É possível ser presencial e flexível ao mesmo tempo, assim como também é possível ser remoto e não gerar desconexão ou falta de senso de pertencimento entre as pessoas
Empresas que nunca tinham feito home office foram obrigadas a incorporá-lo devido ao lockdown provocado pela pandemia de Covid-19. Após o término do período mais restritivo, várias organizações decidiram continuar nesse modelo.
Nos últimos meses, temos visto os modelos híbrido e presencial ganharem mais destaque. Em 2022, por exemplo, 59% das vagas trabalhadas pela Cia de Talentos eram híbridas, 34% presenciais e apenas 6%, totalmente remotas.
O relatório de tendências de 2023 publicado pelo GPTW, em fevereiro, também apontou que o modelo híbrido é o mais adotado pelas empresas atualmente (50,2%). Entretanto, esse índice caiu quando comparado ao ano anterior: 66,2%.
É o fim do modelo remoto?
O modelo de trabalho varia muito de acordo com o setor de atuação, as funções exercidas pelas pessoas e, também, com a cultura de cada organização.
Por um lado, funções administrativas, relativas à tecnologia, consultoria, entre outras, permitem um trabalho híbrido ou mesmo remoto. Por outro, quem trabalha na indústria, com atendimento ao público ou com manutenção de equipamentos dificilmente consegue ter essa flexibilidade.
É fato que os três formatos (presencial, híbrido e remoto) apresentam ganhos e perdas relacionados a custos, flexibilidade, produtividade, conexão entre as pessoas, etc. Cabe a cada uma das empresas fazer essa análise para entender o que melhor funciona a partir das necessidades e desafios do seu negócio.
O CEO da Disney, Bob Iger, afirmou que o retorno ao trabalho presencial beneficiaria a cultura da empresa em geral e, principalmente, os processos criativos de cinema e TV, pois, para ele, a criatividade é o coração e a alma da empresa. Na mesma linha, David Solomon, CEO do Goldman Sachs, também declarou no início do ano que o retorno ao presencial é importante para manter a cultura e a colaboração no banco.
Apesar dessas perspectivas, os números mostram que grande parte das empresas ainda defende o trabalho híbrido.
O que os profissionais buscam?
O relatório “Flexibilidade no Trabalho”, do GPTW, também apontou que 64,7% das pessoas preferem o trabalho híbrido.
Corroborando isso, um estudo divulgado pela McKinsey em 2022 indicou que 50% das pessoas gostariam de trabalhar remotamente três ou mais vezes por semana. Ainda, 30% delas afirmaram considerar mudar de emprego se fossem obrigadas a trabalhar 100% no modelo presencial.
No final de 2022, o Datafolha revelou que 52% de pessoas ocupadas buscavam trabalho remoto ou híbrido, enquanto 45% preferiam o presencial. A preferência pelo híbrido foi maior entre pessoas jovens e profissionais com ensino superior.
Conexão e cultura fortes independentemente do modelo
Conexão entre as pessoas, cultura forte e senso de pertencimento não estão diretamente relacionados ao trabalho presencial.
As pessoas podem estar no mesmo espaço físico e não se beneficiarem disso. Cabe às lideranças a tarefa de estimular as trocas de conhecimento e conexão entre elas, além de promover rituais de fortalecimento da cultura e treinamentos para que se sintam pertencentes à organização, independentemente de onde estão, fisicamente, trabalhando.
É possível ser presencial e flexível ao mesmo tempo, assim como também é possível ser remoto e não gerar desconexão ou falta de senso de pertencimento entre as pessoas. O mais importante é consolidar a cultura organizacional, prestando atenção às necessidades e desejos das equipes e garantindo que elas sejam ouvidas e cuidadas.
Como sugestão, antes de decidir por uma mudança em seu modelo de trabalho, é fundamental que a empresa se questione e analise os ganhos e as perdas que isso acarretará para ela e pondere sobre a reação que essa alteração poderá causar nas pessoas colaboradoras. Diante disso, se a decisão pela mudança se mantiver, deverá avaliar a possibilidade de fazê-la de forma gradativa, sem rupturas de expectativas e com impactos controlados.
Assim como era incerto se o home office seria uma tendência duradoura, determinar que o fim dele está próximo seria ignorar os impactos positivos que tantas empresas tiveram com a adoção desse modelo. O que não pode retroceder é a flexibilidade que ele trouxe no equilíbrio entre vida pessoal e profissional das pessoas. Essa, sim, de fato, veio para ficar.